uando
chegam às plantas, as bactérias
Pseudomonas syringae logo
procuram
portas abertas por onde possam entrar e
causar lesões nas folhas e nos ramos. As
portas são os estômatos, poros micros-
cópicos que têm a capacidade de se abrir
ou fechar. Mas a planta detecta o inimi-
go e rapidamente bloqueia suas entra-
das. Com as portas fechadas as bacté-
rias não têm como entrar, mas não de-
sistem. Elas descobrem a chave para
abri-las e atacar sua vítima.
Parece uma batalha de ficção científica, mas é real. Fe-
char os estômatos é uma resposta inata das plantas que
restringe a invasão por bactérias. A função imunológica
era desconhecida para essas estruturas responsáveis por
trocas gasosas e transpiração das plantas. A descoberta foi
feita pela bióloga brasileira Maeli Melotto, atualmente
contratada como pesquisadora associada na Michigan
State University (MSU), Estados Unidos. “Os estômatos
representam a primeira barreira contra a infecção bacte-
riana, e uma substância liberada pelas bactérias, a coro-
natina, bloqueia essa defesa”, resume Maeli, primeira au-
tora do artigo publicado na edição de setembro da revis-
ta científica Cell com esses resultados.
O achado é um passo importante no conhecimento
sobre os estômatos. O mecanismo de defesa na superfí-
cie das folhas era até desconhecido em grande parte por
causa do método de inoculação, o mais comum nos labo-
ratórios. Para estudar o sistema imunológico vegetal, pes-
quisadores injetam o agente infeccioso (vírus ou bacté-
rias) diretamente dentro da folha. A busca de Maeli foi
impulsionada pelas observações de outros pesquisado-
res feitas há dez anos, que mostraram a ineficácia de al-
gumas bactérias em causar infecção quando inoculadas
na superfície das folhas, em vez de em seu interior. “Co-
mo em condições de laboratório as bactérias só entram
nas folhas pelo estômato, comecei a estudar se eram eles
que protegiam as folhas contra a invasão”, conta.