Contudo, quando eu olhava pra ti era exatamente isso o que eu queria:
abandonar o orgulho e abraçar tudo o que eu vinha sentindo. Dizer ao mundo
inteiro que eu tinha te conhecido, sim. E que todo o errado que eu vivi, entre
amores levianos e paixões enlouquecedoras, havia se tornado gratidão por
você. Eu queria você e eu agradecendo por mais um dia nascendo lado a lado,
sonhando de olhos abertos. Eu queria você e
eu vivendo um no outro entre
pernas e planos.
Não é como se eu nunca tivesse pensado em te dizer a verdade, aliás, eu
pensei nisso todos os dias. Principalmente aqueles em que te via acordar. A
hora em que nossos olhos se encontravam pela primeira vez no dia era como
soltar o ar que eu havia prendido a vida inteira nos pulmões, e a rapidez com
que meu coração se acelerava com a consciência da tua presença
ao meu
lado, diariamente, me dava a chance de acreditar em finais felizes mais uma
vez.
Às vezes, me pergunto se teria sido diferente se eu tivesse lhe dito as coisas
que escrevia pra ti em segredo, e tento me convencer de que não. Conformar-
se é um dos passos de quem procura seguir em frente. Cedo ou tarde, a gente
entende que não tem como manter alguém em nossa vida contra a sua própria
vontade, independentemente do que a gente ofereça em troca. Não vou dizer
que aprendi a minha lição porque nas manhãs de domingo,
nos livros de
romance e aqui no fundo, a verdade desse sentimento me libertou.
Eu faria
tudo de novo.
É quase impossível que um amor tão errado, com o tempo e a nossa própria
insistência, pudesse dar certo. Eu disse quase. O que quer dizer que, pra não
deixarmos nosso coração endurecer, pra não cairmos no abismo da desilusão,
pra não matarmos nossa esperança ou enaltecermos nossas expectativas,
temos que crer no quase. Ou no impossível, tanto faz. Mas,
quando a gente
cria uma mentira pensando que ela nos protege da força da verdade, só
alimentamos o medo de descobrir nossas próprias fraquezas. Eu menti,
sobretudo, pra mim e paguei o alto preço de te perder.