contexto bastante complexo e conturbado que se consubstanciaria – alguns anos mais tarde
– no fim do Império e da escravidão. Conforme evidenciou Hebe M. Mattos de Castro, a
CASTRO, Hebe M. Mattos de. “Laços de família e direitos no final da escravidão”. In: ALENCASTRO,
344.
grandes senhores que a lei seria dessa vez aplicada com rigor. Essas restrições levaram ao
aumento do preço dos escravos e uma concentração social da propriedade de cativos.
Restaram poucos e ricos senhores concentrados nas áreas de exportação, sobretudo no
Sudeste. Devido a essa medida houve uma expansão do tráfico interno intra e inter
provincial, fazendo regredir a pulverização da posse de escravos, até então típica do Brasil.
Muitas páginas já foram gastas e ainda o serão no debate a respeito da resistência
escrava. À abordagem de Gilberto Freyre, em “Casa Grande e Senzala” que, de certa forma,
suavizava as relações entre senhores e escravos no Brasil colonial, seguiram os estudos que
procuravam enfatizar somente a rigidez e a violência do regime escravista, demonstrando o
cativo somente como vítima e objeto da ação dos senhores.
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Por outro lado, alguns estudos
buscaram realçar que somente através das fugas, violência contra os senhores e formação
de quilombos, que os cativos negariam a escravidão. Alguns líderes dessas revoltas eram
transformados em heróis e os pequenos mocambos ou revoltas rapidamente sufocadas ou
até mesmo a resistência cotidiana eram considerados de menor ou de quase nenhuma
importância histórica.
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Visando contestar a dicotomia destes estudos que colocavam de um lado Zumbi dos
Palmares – o escravo que luta “revolucionariamente” contra o sistema – e de outro Pai João
– o cativo submisso e conformado – surgiram novas abordagens, baseadas em profundas
pesquisas empíricas, assim como dialogando com outros aportes teóricos e metodológicos,
que visavam reexaminar e problematizar a resistência escrava em diferentes ópticas. Estes
estudos apontam para o fato de que os escravos negociaram mais do que lutaram
abertamente contra o sistema. Os proprietários e a sociedade como um todo, foram
obrigados a reconhecer um certo espaço de autonomia para os cativos.
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Estas novas
abordagens, que passaram a valorizar o escravo como um agente histórico, preocuparam-se
em evidenciar que antes de chegar ao Brasil, estas pessoas possuíam uma história, uma
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Entre os estudos que seguiram esta perspectiva, podemos destacar as análises da chamada “Escola
Paulista”, cuja umas das obras mais debatidas neste sentido foi: CARDOSO, Fernando Henrique.
Capitalismo
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