Eighteenth‑Century England. Oxford:
Oxford University Press, 2006, p. 113.
[20] Benjamin, Walter. “A obra de
arte na era de sua reprodutibilidade
técnica” (1935). In: Magia e técnica,
arte e política — vol. I. São Paulo: Bra‑
siliense, 1996. A passagem reaparece
praticamente inalterada na terceira
versão do ensaio (1939).
[21] Como espero que esteja claro,
meu enfoque em consumo, moda e
distração não tem a intenção de apa‑
gar o capitalismo da história literária,
mas especificar quais de seus aspectos
desempenharam um papel causal
mais direto no desenvolvimento do
romance. Inquestionavelmente, a
expansão capitalista como o tal criou
algumas pré‑condições gerais cru‑
ciais: uma população maior e mais
alfabetizada; maior renda “gastável”;
e mais tempo livre (para alguns). Mas
desde que a quantidade de títulos
aumentou quatro vezes mais rápi‑
do do que materiais impressos em
geral durante o século
xviii
(mesmo
incluindo a enxurrada de panfletos
no fim do século: ver Raven, James.
The business of books. booksellers and
the english book trade 1450‑1850. New
Haven: Yale Universitiy Press, 2007,
p. 8), devemos explicar também essa
taxa de crescimento distinta: e aquela
peculiar expansão da mentalidade de
consumo incorporada pela distração e
pela moda (e que parece desempenhar
um papel menor para o caso dos dra‑
mas, da poesia, e a maioria dos outros
tipos de produção cultural), parece ser
a melhor explicação que temos até o
momento. Que o consumo desempe‑
nhe um papel tão amplo na história do
romance depende, por sua vez, do fato
de que a suspeita em relação à leitura
por prazer estava começando a desa‑
parecer, junto com a idéia de Constant
de “liberdade dos modernos” como
“o gozo seguro de prazeres privados”
(Constant, Benjamin. Political writin‑
gs. Cambridge: Cambridge University
Press, 2007, p. 317). O prazer, aliás, é
outro ponto cego da teoria do roman‑
ce: apesar de “sabermos”, mais ou me‑
nos, que o romance era desde o início
uma forma de “leitura leve” (Hägg,
Thomas. “orality, literacy, and the ‘re‑
adership’ of the early greek novel”. In:
vezes, superficial e rapidamente, até mesmo de forma um pouco errática;
muito diferente da leitura e releitura “intensivas” dos mesmos (e pou‑
cos) livros — em geral, livros de devoção — que haviam sido a norma
até então
18
. E a tese de Engelsing tem sido freqüentemente criticada,
mas com os romances se multiplicando muito mais rapidamente do
que os leitores, e os leitores se comportando como o famoso John La‑
times, de Warwick, que de meados de janeiro a meados de fevereiro de
1771 tomou emprestado um volume por dia da biblioteca de Clay
19
, é
difícil imaginar como o processo todo poderia ter funcionado sem um
grande aumento da, digamos, distração.
vamos chamar assim, porque, ainda que Engelsing nunca men‑
cione Benjamin, a leitura extensiva parece muito com uma versão
precoce daquela “percepção em estado de distração” descrita ao fim
de “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”. Distração
naquele ensaio é Zerstreuung — despreocupação e entretenimento: a
combinação perfeita para a leitura de romances — e para Benjamin
é a atitude que se torna necessária naqueles “pontos de guinada his‑
tórica” quando as “tarefas” diante do “aparato perceptivo humano”
são tão desafiadoras que não podem ser “dominadas” por meio da
atenção concentrada
20
: e a distração surge como a melhor forma de
lidar com a nova situação — de ficar a par daquelas “rodas da moda
cada vez mais rápidas” que ampliaram o mercado do romance de
forma tão dramática
21
.
O que o nascimento de uma sociedade de consumo significou para
o romance europeu? Mais romances e menos atenção. Romances ba‑
ratos, não Henry James, dando o tom da nova forma de ler. Jan Fergus,
que sabe mais do que todo mundo sobre registros de bibliotecas circu‑
lantes, chama de leitura “incoerente”: tomar de empréstimo o segundo
volume das Viagens de Gulliver mas não o primeiro, ou o quarto, de cin‑
co, de The Fool of Quality. E Fergus então celebra isso como a “forma de
ação do leitor, seu poder de escolha”
22
— mas, francamente, a escolha
aqui parece ser, abrir mão de toda consistência, para estar sempre de
alguma forma em contato com aquilo que o mercado tem a oferecer.
Deixar a televisão ligada o dia todo, e assistir de tempos em tempos —
isso não é forma de ação.
VI
Por que não houve um desenvolvimento do romance chinês no
século
xviii
— nem virada estética européia? As respostas espelham
uma na outra: levar o romance a sério como objeto estético desace‑
lerou o consumo — enquanto um mercado mais ágil para romances
desencorajou a concentração estética. “Ao ler o primeiro capítulo,
o bom leitor já dirigiu seu olhar ao último”, diz um comentário ao
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Novos esTUdos 85 ❙❙ NoveMBro 2009
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Eriksen, R.(org.). Contexts of pre‑novel
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