RESUMO
Este artigo procura responder à seguinte ordem de questões:
Por que os romances são escritos em prosa? Por que tão freqüentemente são histórias de aventuras? Por que houve, ao
longo do século xviii, uma ascensão do romance na Europa? O objetivo é alargar a noção de romance e os campos
abarcados pelos estudos literários.
palavras chave:
Romance; Prosa; Literatura.
SUMMARY
This article tries to answer the following questions: Why are
novels written in prose? Why are they usually adventure stories? Why, during the 18th century, there was the rise of the
novel in Europe? The aim is to enlarge the conception of the novel and the fields comprised by literary studies.
Keywords:
Novel; Prose; Literature.
Novos esTUdos 85 ❙❙ NoveMBro 2009
201
Existem muitas maneiras de falar sobre a teoria do romance, e
a minha consistirá em colocar três questões: por que os romances
são escritos em prosa; por que tão freqüentemente são histórias de
aventuras; e por que houve, ao longo do século
xviii
, uma ascensão
do romance na Europa, e não na China. Por disparatadas que possam
parecer, essas questões têm origem em uma mesma idéia, que orienta
a coleção O romance: “alongar, alargar e aprofundar o campo literário”,
em outras palavras, torná‑lo historicamente mais longo, geografica‑
mente mais largo e morfologicamente mais profundo do que aqueles
poucos clássicos do realismo europeu ocidental do século
xix
que têm
dominado a teoria recente do romance (e meus próprios trabalhos)
2
.
O que essas questões têm em comum, portanto, é que elas todas apon‑
tam para processos onipresentes na história do romance, mas não em
sua teoria. Neste artigo, vou refletir sobre essa discrepância e sugerir
algumas alternativas possíveis.
O rOmance: história e teOria
1
[1] Originalmente publicado em New
Left Review, 52, julho‑agosto de 2008.
[2] Este artigo foi apresentado na
conferência “Teorias do romance”,
organizada pelo projeto O romance,
na Universidade Brown, no outono
de 2007. Com exceção de algumas pas‑
sagens, expandidas à luz da discussão
que se seguiu, deixei o texto mais ou
menos como estava, adicionando ape‑
nas algumas notas. Sou muito grato a
Nancy Armstrong, que me convenceu
a escrever este artigo; e a D. A. Miller
e William Warner, com quem o discuti
longamente. A frase de O romance é
retirada do breve prefácio (“Sobre O
romance”) que pode ser encontrado
em ambos os volumes da edição ame‑
ricana (The novel. Volume 1: History, Ge‑
ography and Culture. Volume 2: Forms
and Themes. Princeton/Oxford: Prin‑
ceton University Press, 2006).
Franco Moretti
tradução: Joaquim Toledo Jr.
11_moretti_p200a213.indd 201
26/11/09 19:06
202 roMaNce: hisTória e Teoria ❙❙
Franco Moretti
[3] Ginsburg, M. e Nandrea, L. “A
prosa do mundo”. In: Moretti, Fran‑
co (org.). The novel, vol. 2, Princeton/
Oxford: Princeton University Press,
2006, p. 245. A respeito deste tópico,
aprendi bastante também com o ar‑
tigo de Hanson, Kristin. e Kiparsky,
Paul. “The nature of verse and its
consequences for the mixed form”.
In: Harris, Joseph. e Reichl, Karl
(orgs.). Prosimetrum. Cross‑cultural