G ORJALA
O Gorj ala é um gigante todo preto oriundo do Norte do Brasil.
Sua figura está associada à dos gigantes tradicionais do fabulário universal
e se constitui num a espécie de Polifem o ou de um Golias barrocam ente
exacerbado, provavelm ente im portado e aclim atado às nossas florestas, j á que
nossos índios nunca foram apaixonados por gigantes.
O próprio nom e Gorj ala rem ete à indum entária m edieval europeia: gorj al
era um a peça da arm adura dos cavaleiros andantes, destinada a proteger a
garganta, ou a gorja, com o se dizia arcaicam ente (“Mentes pela gorj a, vilão!”,
era um dos reptos preferidos das velhas gestas portuguesas). Dessa associação,
passou-se inevitavelm ente à im agem de um ser com a boca desproporcional.
Ele costum a ocultar-se nas serras e nos penhascos cobertos de fraturas e
escarpas pois adora, nos seus m om entos de ação, em preender longas
cam inhadas sobre os abism os e os precipícios, vencendo-os em largas passadas,
com o se nada fossem .
Espécie de guardião ancestral das florestas, tem função sim ilar à da
m aioria dos seus colegas de ofício, que é a de perseguir até a m orte os invasores
dos seus verdes dom ínios.
Tal com o o Mapinguari, o Gorj ala tem o hábito horripilante de enfiar a sua
presa debaixo do sovaco e ir com endo-a aos pedacinhos. Esta presa é geralm ente
um caçador extraviado, e seus gritos lancinantes soam para o nosso colosso de
ébano com o o canto harm onioso da m ais afinada das aves.
IARA
Iara é um a deturpação pseudoindigenista que se fez à figura da Cobra-
Grande, um dos m itos fluviais m ais im portantes da Am azônia. Tam bém
cham ada de Mãe-d’Água, ela assum iu quase todas as características de um a
sereia, chegando a ser apresentada, m uitas vezes, com o rabo escam ado delas.
O m ito do Ipupiara, um hom em -m arinho que saía das águas para m atar os
índios, parece tam bém ter exercido influência na conform ação original da Iara.
Criaturas saindo de dentro das águas para espalhar a devastação é um a constante
no im aginário indígena. Os acréscim os fantásticos, porém , com o cantorias
lúbricas e ofertas de tesouros ocultos para atrair as vítim as, são sem pre
desenvolvim entos posteriores, fruto da m iscigenação operada entre o m ito
indígena e as lendas trazidas pelo colonizador europeu.
De m odo geral, a Iara é apresentada com o um a criatura loira e de olhos
acintosam ente azuis (em bora alguém tente, vez por outra, dar-lhe aspectos
indígenas, a teim osia popular retrocede sem pre ao padrão clássico da m ulher-
peixe de traços germ ânicos). Dotada de voz m aviosa, é com seu canto
arrebatador que a sereia tenta atrair os caboclos para o fundo das águas, onde
habita um castelo subm erso repleto de riquezas.
É certo que a tradição das m ouras encantadas, guardiãs de tesouros
subm ersos ou escondidos em grutas, popularíssim a em Portugal, tam bém
exerceu grande influência sobre a nossa Iara.
Tam bém não se pode esquecer a influência africana: Iem anj á e Oxum ,
divindades aquáticas, não raro se apresentam sob a figura de m ulheres de cor
branca e vestes vaporosam ente azuis, que rem etem , de um a form a ou de outra, à
figura obsessiva da sereia.
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