CABRA-CABRIOLA
Com este nom e que soa vagam ente a um a inocente cantiga de roda,
podem os, na verdade, identificar um a das criaturas m ais violentas e repulsivas do
nosso folclore.
Im portada, ao que parece, a Cabra-Cabriola aclim atou-se m elhor no
Nordeste, onde com eçou a em preender o seu reinado de terror.
Com o o próprio nom e diz, a Cabra-Cabriola é um ser m onstruoso que
adora cabriolar, ou sej a, dar saltos e requebros. Por outro lado, ao m enos no
Brasil, ela não possui qualquer feição ingenuam ente caprina, um a vez que sua
cara se destaca, acim a de tudo, pela presença de um a série afiadíssim a de dentes
e de um par de olhos cham ej antes. Sua boca e suas narinas tam bém expelem
fogo e fuligem .
Seu alim ento predileto são as crianças, e não só as desobedientes. À noite
ela gosta de espreitar a casa onde as m ães, por algum a razão, estão ausentes e,
por m eio de estratagem as solertes com o o de im itar a voz das m esm as, induz as
crianças a abrirem a porta. Um a vez conseguido o intento, a criatura invade a
casa aos berros, só restando às suas pequenas vítim as pularem pelas j anelas ou
invocarem o auxílio do seu anj o da guarda.
* * *
Conta-se que, certa feita, a Cabra-Cabriola estava à espreita para m ais um
ataque nas redondezas de um a casa onde um a m ãe devia sair à noite para
trabalhar.
A m ulher saiu, afinal, e a criatura nefasta esperou algum as horas antes de
ir à porta pedir às crianças que abrissem .
– Abram , filhinhos! Sou eu, a sua querida m am ãe! – disse a Cabra.
Com o, no entanto, não tivesse tido o cuidado de disfarçar a voz, viu-se logo
expulsa pelos gritos das crianças dentro da casa.
– Fora, Cabra m aldita! Bem sabem os que não é a nossa querida m am ãe!
No dia seguinte, a criatura infernal procurou um ferreiro e m andou
m artelar a sua língua até ela ganhar um a com pleição m ais m aleável, capaz de
reproduzir a m aviosa voz da m ãe das crianças.
Na m esm a noite, ela retornou às cercanias da casa e, depois de a m ulher
sair e um bom pedaço da noite ter transcorrido, foi bater outra vez à porta.
– Abram , filhinhos! Sou eu, a sua querida m am ãe!
Desta vez, a sua voz soou tão perfeitam ente m aterna e fem inil que as
pobres crianças, sem atentarem para a figura de quem lhes falava,
escancararam a porta, aliviadas.
Mas quem ficou aliviada m esm o foi a Cabra-Cabriola, ao ver-se senhora
da situação. E o final terrível, digno dos irm ãos Grim m , é m ais um a prova segura
da im portação do m ito.
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