ALMA-DE-G ATO
Entidade quase abstrata do nosso folclore, este Alm a-de-Gato originou-se
nos arredores do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Os terrores que ele
espalhava nos tem pos antigos, especialm ente entre a criançada, operavam -se
quase que exclusivam ente pela força sugestiva do seu nom e, j á que j am ais se
deixava avistar.
Ao longo dos anos, porém , ele acabou associado à figura do gato,
geralm ente de cor preta.
Em se tratando de qualquer m ito brasílico, porém , há sem pre um a ave nas
redondezas para explicá-lo, pois a floresta, desde sem pre, foi viveiro natural de
m itos.
A ave que, segundo alguns estudiosos, originou o Alm a-de-Gato seria um a
certa Tinguaçu – literalm ente, “Bico-Grande” –, ave de m au agouro fam osa por
dar origem , depois de m orta, a um a planta capaz de conceder o dom da
invisibilidade a quem m ascasse um a das suas folhas.
Mas que coisas terríveis faz, afinal, este Alm a-de-Gato?
Concretam ente, nada. O Alm a-de-Gato opera de m odo exclusivam ente
psicológico, não existindo nenhum relato acerca dos atos que com ete ou dos fins
que ele busca. O m áxim o que algum a im aginação infantil exacerbada conseguiu
até hoj e foi entrever-lhe o vulto, escuro com o o de todos os vultos, e um par de
olhos a ofuscarem no m eio da noite. Porém , ação concreta, nenhum a.
O Alm a-de-Gato, dizem todos os seus estudiosos, não sequestra crianças
nem tam pouco as devora. Não existe relato algum de violência com etida contra
quem quer que sej a. No entanto, nossos m oleques interioranos continuam a
votar-lhe um m edo sistem ático, diante do anúncio vago de sua presença – um a
presença que, de tão sutil, é quase um a ausência.
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