OS TRÊS G IG ANTES NEG ROS
Além de ter deixado influência m arcante nos cultos religiosos brasileiros,
os africanos nos legaram tam bém algum as lendas deliciosam ente fantásticas, tal
com o esta dos três gigantes negros.
Havia, certa feita, por estes sertões, um velho com três filhas. Um dia, as
j ovens se encheram de viver ali e resolveram dar um lustro no m undo. Após
percorrerem m eio sertão, foram dar num lugar erm o e desconhecido; exaustas,
entraram num casebre abandonado e ali ficaram para curar as bolhas dos pés.
Neste m eio-tem po, chegaram tam bém ao lugar três gigantes ferozes, os
donos da tapera. Um deles tinha três olhos, o outro, dois, e o terceiro tinha apenas
um olho. Ao perceberem que havia gente no casebre, quiseram logo saber quem
eram as intrusas.
– Quem está aí? – disse o Gigante Três.
Ao ver o rosto do gigante, as j ovens m odularam três gritos perfeitos de
histerism o.
Os gigantes, que estavam absolutam ente calm os, disseram para elas
tam bém se acalm arem .
– Não lhes farem os m al – m entiu descaradam ente o Gigante Dois.
Para com provar a bondade deles, o Gigante Um lhes ofereceu um a bebida
que m atava qualquer sede. Neste instante, a m ais j ovem das m oças lem brou-se
do aviso que recebera, a m eio cam inho, de um pássaro.
– Não beba coisa algum a oferecida por gigantes horrendos!
Um aviso tão desnecessário, pensara ela, que se esquecera até de avisar as
irm ãs.
Acontece que as irm ãs eram duas tolas e tom aram logo a beberagem .
Resultado: as duas adorm eceram . No m esm o instante, a j ovem desperta, num
ím peto audaz, com eçou a entoar um cântico m ágico africano que fez os gigantes
fugirem com as m ãos nos ouvidos.
Feliz com o triunfo, ela acordou as irm ãs, e todas saíram correndo catinga
afora.
Nem bem haviam com eçado a correr, porém , e j á os três gigantes
surgiram velozes atrás delas, com o três m ontanhas negrej ando ao sol.
– Corram ! – disse a irm ã m ais j ovem .
O problem a é que não havia m ais onde se refugiarem senão num a única
árvore que conseguira resistir aos fragores escaldantes da seca.
– Subam ! – disse a j ovem .
As duas obedeceram , e logo as três estavam encarapitadas no topo. Graças
à sua Mãe Oxum , as j ovens descobriram , aliviadíssim as, que os gigantes não
eram tão altos quanto a árvore na qual elas haviam trepado.
Então chegou, em prim eiro lugar, o Gigante Três. Apesar de ter tantos
olhos, ele não viu nenhum a das três fugitivas escondidas nas folhagens ralas.
– As desgraçadas fugiram ! – disse ele, seguindo adiante.
O chão trem eu enquanto ele partia, e voltou a trem er logo em seguida com
a chegada do segundo gigante. O Gigante Dois m irou bem seus dois olhos sobre a
árvore, m as tam bém não viu coisa algum a.
O chão trem eu, se acalm ou e voltou a trem er outra vez com as pisadas do
terceiro gigante. Este, que só tinha um olho para enxergar o óbvio, viu logo as três
m oçoilas escondidas na copa da árvore.
– A quem pensam que enganam ? – rugiu ele. – Desçam j á da árvore!
Elas não obedeceram , claro, nem teriam por quê.
– Desçam , covardes, e lutem com o verdadeiras m eninas! – gritou,
agarrado ao tronco.
Sacando, então, de um m achado, o gigante com eçou a golpear o tronco
com fúria. As j ovens chacoalharam no alto com o bam bus, m as nenhum a caiu.
– Canta! Canta de novo! – im ploraram as irm ãs.
Então a irm ã cantora puxou da m em ória m ais um a cantiga ancestral
ioruba e cantou no ouvido do gigante.
Desta vez, porém , o grandalhão gostou e com eçou a acom panhá-la.
A coisa foi longe, e quando a cantoria com eçava a se tornar realm ente
insuportável, aquele m esm o pássaro que dera o alerta da beberagem surgiu dos
céus e foi pousar na copa da árvore.
– Depressa, leve um a delas! – disse a irm ã cantora, entre as pausas do seu
canto.
O pássaro tom ou no bico um a das irm ãs e levou-a em bora. Depois, voltou
e levou, da m esm a form a, a segunda irm ã. Então, ao retornar para levar a irm ã
restante, o pássaro se transform ou, subitam ente, num lindo príncipe negro.
Portando um alfanj e, ele cortou fora a cabeça do gigante e tom ou nos braços a
j ovem cantora.
O príncipe e a j ovem casaram -se e foram eternam ente felizes. Quanto ao
que foi feito das irm ãs e dos outros gigantes, isto ninguém j am ais se preocupou
em saber.
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