AVENTURAS DE PEDRO MALAZARTE I
Pedro Malazarte é um personagem ladino. Ele em igrou da Espanha e de
Portugal para o Brasil e acabou se aclim atando m uito bem por aqui. É o rei da
esperteza e continua popularíssim o por todo o interior do Brasil.
Certa feita, Pedro foi trabalhar em um a fazenda. O patrão gostava de
arrancar, literalm ente, o couro dos seus em pregados. (Pedro tinha um irm ão que
voltara para casa sem um a tira de couro nas costas.)
Assim que Malazarte chegou à fazenda, o proprietário lhe deu um a
cadelinha.
– Já viu, hein! Vá para a plantação e só volte para alm oçar quando a
cadelinha quiser!
Já eram duas da tarde e a cadelinha, esparram ada na som bra, não fazia
m enção de se m exer, e a barriga de Malazarte roncando de fom e. Então ele
assobiou e apontou para a casa. A cadelinha abriu um bocej o de engolir o
m undo. Depois, m astigou o ar três ou quatro vezes e recaiu na m odorra.
– Já vi a tapeação! – disse Pedro, inj uriado.
Tom ando um pedaço de pau, ele aplicou um a lam bada daquelas nos
quartos da cadela. Com o um raio, a bicha saiu ganindo e coxeando na direção da
casa.
Pedro Malazarte apareceu, em seguida, na varanda do proprietário.
– Tam bém quero com er – disse ele, sisudo.
O proprietário, refestelado à m esa, torceu o nariz e disse para Pedro ir à
cozinha “se aviar com o que houvesse”.
Malazarte raspou os restos das panelas e voltou à plantação com a cadela.
Ali pelas oito da noite, quando até o sol j á desm aiara de insolação, Pedro viu a
cadela deitada de barriga para cim a, sem dar a m enor m ostra de querer
retornar.
Então ele a açoitou com o pau, outra vez, e a cadela voltou de olhos
arregalados para casa.
Antes de deitar, Pedro foi com unicado da tarefa do dia seguinte.
– Já viu, hein! Am anhã vai lim par a roça de m andioca!
Malazarte pagou os pecados, m as lim pou inteira a roça m aldita.
– Está lim pa, m eu patrão – disse ele.
O fazendeiro fez cara feia e latiu outra ordem , que para isso ele era bom .
– Já viu, hein! Am anhã vai trazer o carroção carregado de pau sem nó!
Malazarte cortou todo o bananal, que é pau sem nó, e entregou tudo.
Então, no dia seguinte, o patrão m andou m eter o carro de bois para dentro
de um casebrezinho.
– Põe tudo lá dentro, m as vê lá, hein, sem passar pela porta!
O patrão era precavido. Antes de ir deitar tratou de passar a chave na porta
do casebre, só para se garantir. Depois escondeu m uito bem a chave.
Ao chegar ao casebre e ver que a porta estava sem j eito de abrir, Pedro
tom ou de um m achado e foi pra cim a da carroça e dos bois e picou tudo em
pedaços. Depois foi até a j anela e atirou parte por parte para dentro do casebre.
– Está tudo lá dentro, m eu patrão – disse ele ao fazendeiro.
– Então prepare-se que am anhã, antes do sol, você vai à feira vender
porco.
Neste ponto, o diabo roncou nas tripas de Malazarte, e ele decidiu que era
hora de aprontar, tam bém , pra cim a do fazendeiro. Ao chegar à feira, cortou o
rabo dos porcos antes de vendê-los. Depois, enterrou-os, às escondidas, num
lam açal, na propriedade do fazendeiro, e foi ter com ele.
– Acuda, senhor, que a porcada está atolada no barro!
O fazendeiro, apavorado, foi correndo salvar o prej uízo, enquanto
Malazarte tom ava em prestado dinheiro da caseira para com prar as pás para
desenterrar a bichada.
– Dê-m e logo, foi o patrão quem pediu! – disse ele.
O patrão arrancou da lam a só o rabo dos porcos, e ficou certo de que o
resto a terra com era. Ficou de cam a três dias, consolado unicam ente com o fato
de que o desgosto, tirando-lhe o apetite, lhe dim inuía tam bém o prej uízo.
Malazarte aprontou outras para o patrão, e a cada dia era um novo
prej uízo. Então, o patrão decidiu que o m elhor era liquidar de um a vez com o
patife.
– Um ladrão de rês anda por aí – disse ele a Malazarte. – Já viu, hein!
Am anhã vou m ontar guarda no curral. À m eia-noite em ponto, venha m e
substituir!
Na hora aprazada, Pedro, farej ando a tocaia, correu até a esposa do
fazendeiro.
– Rápido, seu m arido a espera no curral. Leve este bacam arte, pois há
ladrão por aí.
A velha tom ou o bacam arte e se foi ao curral. Ao se aproxim ar do
cercado, apanhou um a tal carga de chum bo e vidro m oído pela cara que desabou
m orta por terra.
Neste instante, Malazarte surgiu, acusadoram ente.
– Aqui! Acudam todos, que o patrão m atou a esposa!
Toda gente correu para ver a desgraça. O proprietário, sentindo a corda da
lei no pescoço, ofereceu um alforj e cheio de dinheiro para Malazarte sum ir e
nunca m ais falar nada a respeito.
E foi assim que Pedro Malazarte voltou rico para casa, e com toda a pele
no corpo.
Compartilhe com seus amigos: |