O ÍNDIO Q UE Q UERIA MATAR O SONO
Certa noite, um índio concebeu o desej o extravagante de m atar o sono.
– Graças a ele deixo de fazer m uitas coisas úteis, perdendo m etade das
horas da m inha preciosa vida – disse ele aos da aldeia, antes de partir para a sua
extravagante caçada.
Os índios fizeram de tudo para dem ovê-lo da sandice, m as ele teim ou e
partiu para a floresta.
– Dizem que o sono vem de lá. Pois é lá que o m atarei.
O índio m eteu-se no coração da floresta am azônica e, agachado e com um
tacape enorm e na m ão, passou a esperar a chegada do inim igo.
Quando a noite caiu ele arregalou ainda m ais os olhos. Era preciso estar
alerta. A barulheira dos sapos, dos insetos e dos anim ais caçando e sendo caçados
era infernal. Ainda assim , o índio sentia, cada vez m ais, que a sua presa se
aproxim ava.
Então, quando o sono finalm ente chegou, o índio desabou no solo. Quando
acordou, viu, desolado, que a sua presa tinha fugido.
– Maldição! Estava quase nas m inhas m ãos!
Então preparou-se para, na noite seguinte, ter a sua desforra.
– Desta vez ele não m e escapa!
O índio fez um chá bem forte para m anter-se desperto, m as a sua presa,
adivinhando a artim anha, só foi aparecer quando o dia estava quase nascendo.
Quando o sono chegou o índio desabou outra vez, com o tacape nas m ãos.
Dizem que o índio teim oso está até hoj e m etido nos cafundós da floresta
tentando m atar o sono.
A VIDA HUMANA
Certa feita, segundo os índios bororo, a pedra e a taquara deram início a
um debate para saber qual das duas se assem elhava m ais à vida hum ana.
– Sem dúvida algum a, a vida hum ana se parece m ais com igo – disse a
pedra, categoricam ente –, pois a vida hum ana é tão resistente sobre a Terra
quanto as pedras.
Neste ponto, a taquara contestou:
– De form a algum a, am iga pedra. A vida hum ana se parece com igo, e não
com você. Os hom ens m orrem com o as taquaras, ao invés de durarem
perpetuam ente com o as pedras.
A pedra alterou-se ligeiram ente.
– Ora, tolices! A vida hum ana se parece com igo! Não vê, então, com o ela
resiste ao frio e ao calor, não se dobrando nem ao vento, nem às intem péries?
– Não, não, enganas-te – disse a taquara. – O hom em , na verdade, tem
bem pouco de pedra. Ele m orre com o nós, as taquaras, m orrem os, porém
renasce nos seus filhos.
Então, m ostrando à pedra os seus filhos – a taquara estava dentro de um
enorm e e ruidoso taquaral –, ela pôs, por assim dizer, um a pedra sobre a questão:
– Vej a com o som os parecidos com os hom ens: som os m aleáveis, tem os a
pele frágil e, finalm ente, nos reproduzim os sem parar.
Então a pedra, reconhecendo a derrota, ficou m uda e nunca m ais disse
palavra.
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