BAHIRA E O RAPTO DO FOG O
Histórias sobre raptos do fogo são tão antigas quanto o hom em . Já vim os
anteriorm ente a versão dos índios tem bés para o tem a, na lenda “O Furto do
Fogo”. Agora, é a vez de conhecerm os a versão dos parintintins para esse
episódio. Tal com o na prim eira lenda, tam bém aqui o urubu é considerado o
dono do fogo. Ele não o concedia a ninguém , e os hom ens não sabiam o que era
utilizar-se das cham as para cozinhar um a com ida ou aquecer-se do frio. O sol
era a única fonte de calor, e era nele que os hom ens buscavam rem ediar a sua
privação. Mas m esm o assim eles sentiam a necessidade de terem em seu poder
o uso direto das cham as.
Isso foi assim , até que um dia eles resolveram recorrer a Bahira, um
sem ideus civilizador das m atas.
– Traga-nos o fogo que o urubu-rei não nos quer conceder.
Penalizado dos hom ens, Bahira arm ou um plano. Após deitar-se no m eio
da floresta, fingiu-se de m orto, cobrindo o corpo com sinais falsos de putrefação,
a fim de atrair o apetite do Senhor do Fogo.
Quem chegou prim eiro foi a m osca varej eira. Após passear por todo o
corpo inerte do sem ideus, ela foi levar a notícia ao urubu-rei.
Sem hesitar, o urubu envergou seu casaco negro de penas e m ergulhou na
direção da terra. Ao ver o corpo de Bahira, pousou e com eçou a preparar o fogo
para assá-lo. Bahira, com um olho entreaberto, viu quando o urubu depositou a
preciosa cham a sobre os gravetos e, num pulo, apoderou-se dela.
– Ladrão! – gritou a ave, agitando as asas.
Bahira disparou na corrida enquanto o urubu dava aos céus o seu grito de
alerta:
– Aqui, todos!
Um a nuvem de urubus desceu dos céus, e todos se puseram no encalço do
sem ideus. Bahira enfiou-se num tronco oco e saiu pelo outro lado. Os urubus
fizeram o m esm o. Depois, m eteu-se num a brenha de taquaras, e ali os urubus
não conseguiram penetrar.
– Ufa, acho que consegui! – suspirou baixinho o sem ideus.
Então, depois que os urubus j á tinham se dispersado, resignados com a
derrota, ele abandonou o seu esconderij o e foi até a beira do rio. Ao ver um a
cobra d’água passar, apanhou-a e, depois de colocar o tição de fogo nas suas
costas, disse:
– Vá, m inha am iga. Atravesse o rio e leve o fogo até os índios.
A cobra com eçou a nadar, m as o fogo em suas costas ardia tanto que ela
acabou sucum bindo no m eio da j ornada. A correnteza trouxe o seu corpo
enegrecido de volta à m argem onde estava o sem ideus.
O cam arão passava por ali, e Bahira o apanhou.
– Você é o m ensageiro certo para conduzir o fogo! – disse ele, encravando
a cham a nas costas do crustáceo, que pôs-se a nadar rio adentro.
Quase no fim do traj eto, porém , ele tam bém sucum biu à terrível ardência.
– Maldição! – exclam ou o sem ideus, ao receber de volta o cadáver
verm elho do cam arão.
Então, ao erguer em desespero os olhos para o céu, avistou a saracura.
– É isto, o fogo irá pelos céus!
A ave recebeu o fogo nas costas e levantou voo, m as, antes de chegar à
outra m argem , faltou-lhe o fôlego e ela caiu dentro d’água, queim ada.
Nesse m om ento, Bahira avistou o m ensageiro ideal: o sapo-cururu. Dizia-
se que essa criatura dos brej os tinha o hábito de ingerir brasas, pensando tratar-se
de vaga-lum es. Bahira o fez engolir a brasa e j ogou-o na água.
Desta vez tudo correu bem , e o sapo regurgitou a brasa assim que pulou
para a terra, entregando-a aos índios parintintins. Em recom pensa, foi prem iado
com a suprem a honra de tornar-se paj é da aldeia.
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