A ESCADA DE FLECHAS
Os índios kaingangs, do extrem o sul do Brasil, contam um a lenda
interessante acerca de um a escalada aos céus praticada por eles em dias m uito
antigos.
Naquele tem po, as onças com iam m uito m ais gente do que hoj e, e os
índios não aguentavam m ais viver nessa apreensão. Não se passava um dia sem
que algum deles fosse com ido vivo por elas ou sim plesm ente raptado sem deixar
vestígios. Velhos e crianças eram as presas m ais com uns, m as a verdade é que
índio nenhum podia se vangloriar de estar a salvo desses predadores vorazes. Os
índios colocavam vigias nas tabas e fortificavam -nas com paliçadas, m as as
onças acabavam com endo os vigias.
– Chega! – disse, então, certo dia, o cacique.
Depois de convocar o feiticeiro-m or da aldeia, exigiu que ele apresentasse
um a solução.
– Solução boa só há um a: fugir – disse o paj é, sem m ais rodeios.
O cacique enterrou os dedos no cocar.
– Fugir? Fugir para onde?
De fato, não havia lugar na terra onde as onças não pudessem alcançar os
hom ens.
– Só se nos m eterm os debaixo d’água – disse o chefe da aldeia.
– Ou subirm os aos céus – com pletou o paj é, m uito seriam ente.
O cacique pensou que o paj é estivesse brincando, m as era verdade. Após
tom ar um a alj ava cheia de flechas, o paj é foi para um descam pado e
arrem essou a prim eira flecha em direção ao céu. Todos os dem ais encolheram -
se, com receio de que Tupã devolvesse a flecha com um raio fulm inante.
Felizm ente, nada disso aconteceu. Mas o m ais espantoso é que a flecha
ficou encravada no céu.
– Acerte nela – disse o paj é, entregando o arco a outro índio, bom de
pontaria.
O índio m irou e acertou bem na extrem idade da seta encravada,
encom pridando-a. E assim foram todos arrem essando um a flecha após outra, até
terem form ado um a escada que descia do céu até a terra.
– Am anhã bem cedo, subirem os todos por esta escada e irem os viver no
céu, bem longe das onças – decretou o cacique.
Os índios voltaram à taba, a fim de se prepararem para a escalada do dia
seguinte.
Quando o sol raiou, j á toda a aldeia estava aos pés da escada de flechas,
que havia se transform ado num a escada de cipós, cheia de degraus para facilitar
a subida.
– Vej am , Tupã nos aj uda! – disse o paj é, e todos se anim aram .
Ao colocar, porém , o pé no prim eiro degrau da escada, o cacique escutou
o rugido inequívoco de um a onça lá no topo do céu.
– Será possível? – exclam ou. – Há onças tam bém no céu?
Não, nunca houvera, pelo m enos até a noite anterior. Acontece que,
enquanto os índios dorm iam , um casal de onças aproxim ara-se sorrateiram ente
da escada e trepara nela.
A questão agora não era m ais buscar refúgio no céu, um lugar tam bém
povoado de onças, m as saber quem iria até o alto cortar a escada para que as
onças não pudessem m ais descer para a terra.
Dem orou um pouco até que um casal de valentes se ofereceu. Eles
subiram e, ao chegarem ao topo, cortaram rapidam ente a escada, que foi
em bolar-se aos pés dos índios.
O casal, porém , j am ais pôde descer, e acredita-se que até hoj e viva no
céu, j unto com o casal de onças.
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