COMO SURG IRAM OS BICHOS
Houve um tem po, segundo os índios ofay és, em que o Sol vivia de
pendenga com os hom ens. O principal m otivo era a falta de caça. Não havia
bicho em parte algum a, e os hom ens reclam avam o tem po todo com o Sol para
que este lhes arrum asse o que com er.
O conflito evoluiu até que, certa feita, enfurecidos, os índios arrem essaram
todas as suas flechas contra o Sol, m as nada conseguiram , pois ele era
indestrutível. Noutra ocasião, tentaram queim á-lo vivo num incêndio na m ata,
m as o Sol só conseguiu achar graça naquilo, pois ele j á vivia nas cham as.
A coisa foi assim até que, certo dia, farto daquilo, o Sol resolveu punir os
hom ens.
– Eles querem caça? Pois então a terão!
No dia seguinte, ele convidou os hom ens para irem consigo à floresta.
– Que haverem os de fazer lá? – disseram os índios. – Lá não tem nada para
caçarm os!
– Mas tem árvores carregadas de frutos m uito saborosos que eu fiz nascer
durante a noite – respondeu o Sol.
Os índios, que andavam com m uita fom e, decidiram ir ver, afinal.
– Aqui está – disse o Sol, apontando-lhes um a árvore enorm e. – Essa
árvore é um a j abuticabeira, e dela podeis desfrutar dos frutos m ais saborosos.
Os índios treparam nos galhos e com eçaram a chupar as j abuticabas. Em
poucos m inutos não havia m ais nenhum a frutinha em toda a árvore.
– Onde tem m ais? – perguntaram os índios, agoniados.
O Sol lhes apontou um a segunda j abuticabeira. Os índios pularam dos
galhos e correram até a outra árvore, com eçando a escalar os seus galhos.
De novo o ruído dos índios chupando as j abuticabas encheu a floresta. Só
que desta vez o Sol, postado em baixo da árvore, agarrou o tronco e com eçou
abruptam ente a chacoalhá-lo.
Os índios, assustados – pois haviam subido m uito alto, até o topo da árvore,
para alcançarem as últim as frutinhas –, agarraram -se desesperadam ente aos
galhos e com eçaram a gritar.
– Pare! Quer nos m atar?
Nesse m om ento, o Sol lançou um feitiço sobre eles, e cada qual com eçou a
se transform ar em um anim al antes de despencarem . O prim eiro anim al a cair
foi um a anta. Depois veio um a cutia, e um veado, e um a paca, e um a onça, e,
assim , um a série de outros anim ais.
Apesar de tudo, porém , m uitos índios ainda conseguiram se m anter presos
aos galhos, e estes acabaram sendo transform ados em m acacos.
Os m acacos arreganharam os dentes para o Sol, lançando sobre ele m il
m aldições.
– Do que reclam am ? – disse o Sol, partindo para o céu. – Não queriam
caça? Agora j á há caça abundante por toda a floresta!
Então um dos m acacos, enfurecido, desceu até a terra e com eçou a puxar
do chão as outras árvores, que eram todas baixinhas, e logo a floresta encheu-se
de árvores tão grandes quanto a j abuticabeira. Os m acacos puseram -se a
entrelaçar as copas das árvores, cerrando o teto da floresta com um m anto
verde.
E foi desde essa época que o Sol viu-se im pedido de entrar na floresta.
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