partido. Durante o traj eto, o coco com eçou a vibrar, e um som baixinho, ao
m esm o tem po rouco e fininho, escapou da sua casca lacrada.
– O que será isto? – disse um dos três índios, colando a orelha ao coco.
– O que não é para ser visto! – disse o tim oneiro, arrancando o coco do
curioso.
Mas o terceiro tam bém estava curioso e, tom ando o coco, colou nele a
orelha.
– Tem um m onte de coisas aqui dentro! – disse ele.
– Talvez sej am j oias! – disse o prim eiro.
Ao escutar essas palavras, o tim oneiro tam bém acabou por render-se à
curiosidade.
– Está bem , vam os parar a canoa e ver o que há aqui dentro!
A canoa parou bem no m eio do rio, e eles acenderam um a fogueirinha
para enxergar m elhor. Com o sem pre acontece, o que m ais discursara contra a
desobediência revelava-se agora o m ais im paciente por praticá-la.
– Vam os, quebre de um a vez essa porcaria! – disse o tim oneiro, de olhos
arregalados.
– Não!... Vam os retirar apenas o breu! – disse outro, m ais cauteloso.
Com um a m echa do fogo eles derreteram , então, a cobertura e finalm ente
abriram o coco.
De repente, um a nuvem negra escapou de dentro e envolveu a canoa e o
rio e o m undo todo enquanto os índios cobriam as cabeças, abaixados. Ao m esm o
tem po, m ilhares de sapos e grilos pularam para fora do coco e se espalharam
m undo afora, dando à noite a sua inconfundível trilha sonora.
A noite se espalhara por tudo, indo alcançar a casa onde m orava a filha da
Cobra-Grande e seu esposo.
– Vej a, m eu m arido! – disse ela. – Algo aconteceu!
Mas ele não podia ver nada, sequer a sua am ada esposa.
– Se não posso vê-la durante a noite, então j am ais terem os a noite! – disse
ele, enfurecido.
Então, ele fez m enção de agarrá-la, m esm o sem vê-la.
– Não, espere! – gritou ela. – Agora terem os de esperar o dia!
O m arido caiu da rede, de desgosto.
– E haverá dia, outra vez? – disse ele, desolado.
– Sim , ele não tardará – afirm ou a j ovem , confiante.
E assim foi. Logo, um a luzinha despontou na escuridão dos céus.
– Vej a, a estrela d’alva! – disse ela, apontando a estrela que anuncia o dia.
– Agora vou separar a noite do dia, de tal sorte que terem os as duas coisas,
alternadam ente.
Com o surgim ento da noite, havia ocorrido um a série de m etam orfoses na
natureza. Bichos e aves de toda espécie haviam surgido, e quando ela olhou para
o m arido viu que tam bém ele havia sofrido um a m udança.
– Meu adorado! – gritou ela, radiante. – Que cuj ubi lindo você está!
O pobre m arido havia se transform ado num a galinha preta de penas
esverdeadas.
– Que besteira é esta? – disse ele ao acordar, agitando as asas e falando j á
pelo bico.
– Oh, que m aravilha! – disse ela. – A partir de agora, sem pre que o dia
nascer, você cantará para m im e m e despertará de um a noite deliciosa de sono!
A j ovem parecia m esm o feliz. Pena que o m arido não parecesse tão
anim ado com a m udança.
– Quer dizer que vou ser esta ave horrorosa o resto da vida?
– Horrorosa?! – exclam ou a j ovem , ofendida. – Oh, Mãe-d’Água! Sem pre
reclam ando!
Neste m om ento, os três em issários desastrados reapareceram .
Im ediatam ente, o m arido pulou na direção deles. Mas parou ao ver que os três
em issários tam bém estavam com os corpos cobertos de pelos negros.
A j ovem com eçou a rir desbragadam ente assim que a luz da aurora lhe
perm itiu ver m elhor no que os três im prudentes haviam sido convertidos: três
m acacos de dentes arreganhados.
– Muito bem , toleirões, aí está o prêm io da sua im prudência! – disse o
m arido, sentindo-se m uito bem vingado. – Doravante irão pular de galho em
galho, de dia e de noite!
Os três m acacos deram de om bros, arreganharam os dentes outra vez e
saíram pulando para dentro da selva. Suas bocas estavam pretas e tinham m arcas
am arelas nos braços, um resquício do breu ardente que espirrara sobre eles
quando arrom baram o coco no m eio do rio.
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