absoluto e de um fim absoluto (Kosik, 1976, p.218, grifos no original).
forma de conhecimento, dizemos que a filosofia também o é.
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História da Psicologia
“descolamento” da natureza. Isso significa uma mudança qualitativa
que impõe o aparecimento do pensamento racional, já que o homem
deixa de ser somente ser biológico. Ou seja, começa a observar, anali-
sar os fatos da natureza, o nascimento, a morte, o sangramento e
tantos outros aspectos que compõem a vida cotidiana.
Quando ainda “colado” à natureza, a explicação do mundo girava
em torno do mito (narrativa sobre a origem do mundo, dos homens,
dos deuses, das guerras etc.). Essa forma de pensamento mítico existe
nas chamadas sociedades primitivas, na qual o homem produz somen-
te para consumo imediato. Essa forma de vida primitiva se caracteriza
pelo imediatismo da sobrevivência e também pela falta de diferencia-
ção que o homem tem de si em relação ao mundo/natureza.
É com a atividade prática que lhe garante a sobrevivência - traba-
lho - que o homem vai desenvolvendo essa diferenciação, tanto atra-
vés da fabricação e utilização de instrumentos para o trabalho, como
através da linguagem quando da transmissão de conhecimento. Isto
é, à medida que o homem vai se socializando na relação com outros homens
e com a própria natureza, também vai superando sua condição biológica e,
sem deixar de ser um ser natural, começa a se diferenciar da natureza.
Ainda, nessas sociedades o pensamento se firma pela crença, pela
fé. Isso significa que o homem primitivo explica a sua origem, a origem do
mundo, através de forças tidas como superiores a ele. Assim, através do
mito, o homem tendia a tão-somente ser um ser natural, na medida em que
a narrativa mítica “revelava” que o passado é tal como o presente.
Entretanto, à medida que o homem vai se “descolando” da natu-
reza, se diferenciando dela, se transformando e transformando-a, te-
mos outra estrutura de pensamento, em que o mítico não mais se
sustenta, porque apoiado na revelação e não na explicação. Essa
reordenação de pensamento está intimamente ligada às transforma-
ções da vida material humana.
A filosofia nasce em virtude da necessidade de o homem ordenar,
organizar seu pensamento. Assim, se, segundo Chauí (1995), perguntar-
mos o que é filosofia, a primeira resposta poderia ser "a decisão de não
aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situa-
ções, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; ja-
mais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido" (p. 12).