Conscience.
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L. G. Cambaúva, L. C. da Silva e W. Ferreira
A
o ministrar disciplinas que versam sobre os fundamentos da
psicologia, temos tido a preocupação de fazer com que os
alunos reflitam sobre a ciência em que estão sendo forma-
dos. Julgamos que a reflexão deva ser feita com o objetivo de se
entender a produção histórica da ciência psicológica para, a partir daí,
entendermos a psicologia que estamos fazendo e que rumos ela vem
tomando. Temos, sobretudo, a preocupação de formar um profissio-
nal que possa contribuir com sua ciência de maneira ativa e crítica.
Nesse sentido, tem este artigo o objetivo de argumentar sobre a ne-
cessidade de se estudar a psicologia de uma perspectiva histórica, ou
seja, a partir do ponto de vista que apreende a ciência psicológica
como uma prática social e que entende serem os seus fundamentos,
históricos e filosóficos, intimamente ligados à própria forma de o ho-
mem viver e se expressar na sociedade.
Partindo dessa perspectiva, entendemos que a psicologia vai sen-
do construída à medida mesmo que os homens vão construindo a si e
a seu mundo. A preocupação do homem com as chamadas atividades
subjetivas é tão antiga quanto as primeira formas do pensamento
racional, ou seja, quando o homem pensa acerca do mundo, dos ou-
tros homens e de si mesmo, elabora idéias psicológicas, idéias que se
referem a processos individuais e subjetivos, como, por exemplo, as
percepções e as emoções.
O homem, sendo personagem principal desse processo de desen-
volvimento do pensamento, cria idéias, entre elas as idéias psicológi-
cas. Ele cria as ciências como forma de compreensão do mundo; entre
essas ciências cria a psicologia, tendo como objetivo o entendimento
do que hoje chamamos subjetividade, bem como a interpretação desta
A reflexão sobre o que é a Psicologia, de onde vem, para que e a quem
serve, é algo tão imprescindível para o psicólogo como o conteúdo de
suas teorias e o domínio de suas técnicas
(ANTUNES, 1989, p.32-33).
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História da Psicologia
na sua relação com o mundo e com outros homens. Isso significa que
a psicologia pode ser considerada uma ciência social, e seu objeto o
homem. Ao falarmos do desenvolvimento da psicologia, estamos, ao
mesmo tempo, nos referindo ao desenvolvimento, ao processo, à ela-
boração e à criação do pensamento humano. Ou seja, assumimos e
entendemos que o homem está em constante movimento. Como ana-
lisa Lane (1985),
ele "fala, pensa, aprende e ensina, transforma a natu-
reza, o homem é cultura, é história" (p. 12).
Estudando a psicologia numa dimensão histórico-social, é possí-
vel entender a sua constituição em ciência e entender seus debates
atuais no interior mesmo das relações sociais desenvolvidas pelos
homens. Concebemos, como primeiro ponto a ser levado em conta,
que a psicologia não é uma criação mágica ou abstrata. Pelo contrário,
é uma criação humana e bem concreta: inicialmente, enquanto idéias
psicológicas imersas na filosofia; depois, enquanto disciplina científi-
ca, tendo, nos dois momentos, o objetivo de compreender as ações,
as atitudes, os comportamentos e tantos outros estados subjetivos
humanos que se revelam dinamicamente na relação dos homens entre
si no mundo em que vivem.
O segundo ponto a considerar é que a psicologia, por muito tem-
po, foi tema da filosofia. Muitos estudiosos consideram que ela se
emancipou da filosofia em meados do século XIX. Sendo assim, nos
parece que não podemos resgatar a história da psicologia sem enten-
dermos a filosofia como primeira forma de desenvolvimento do pensa-
mento humano racional, quando das primeiras indagações do homem
sobre o mundo.
E, ainda, um terceiro aspecto a se observar é que o aparecimento
da consciência humana é concomitante ao aparecimento do pensa-
mento racional, já que o homem de simples animal passa a ser humano,
social e histórico. Essa consciência que em primeira mão é a consciên-
cia de si, leva o homem a elaborar os primeiros conceitos sobre a
subjetividade humana, que nada mais são do que as próprias idéias
psicológicas, embriões da futura ciência psicológica.
Sobre esses três pontos é que desenvolvemos algumas reflexões
que têm nos ajudado a compreender e ensinar a história da psicologia.